domingo, 15 de junho de 2008

Debate sobre uso de animais na medicina - UFSC

Olá pessoal. Estou começando hoje este blog. Pretendo me apresentar melhor em outro post, posteriormente. Por hora vou apenas falar do tema acima entitulado, pois as idéias continuam frescas em minha memória.

Estive recentemente, no dia 11/06/2008, em um debate que ocorreu na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), acerca da utilização de animais em experimentos científicos.

Resumindo o debate:

O primeiro debatedor, um biólogo, apresentou dois casos judiciais, onde os indivíduos requeriam na justiça o direito de não participar de aulas onde fossem utilizados animais para experimentos científicos, sendo um deles deferido, em liminar, pela justiça. Apresentou também a legislação ambiental sobre crimes penais, com ênfase ao artigo que pune a prática de estudos em animais quando houver outros recursos.

O segundo, um professor da UFSC, apresentou as várias doenças que puderam ser tratadas através do teste em animais de vários medicamentos que, após constatada a sua segurança, foram utilizados em humanos. Entre as doenças foram destacadas, por exemplo, o mal de parkhinson e diabetes. Apresentou também, em síntese, que o aprendizado gerado pela experimentação animal não se iguala aos feitos através de formas análogas, elencando entre estas os modelos de computação, os bonecos, as culturas celulares, entre outras.

A terceira debatente, uma filósofa e pós-doutorada, teceu comentários (mais emotivos do que científicos) acerca do bem-estar animal. Acerca desta debatedora, eu posteriormente comentarei melhor.

Por fim, a quarta debatente, professora de fisiologia da UFSC, apresentou os benefícios e formas de aprendizado que, segundo alega, não poderiam ser aprendidos de outra forma que não com os próprios testes em animais.

Tendo finalizado as apresentações, partiram para as respostas às perguntas...

Vamos então às criticas.
Primeiramente, acho que cabe ressaltar um ponto importante: cerca de 90% das pessoas que foram ao debate, já entraram com pensamentos pré-estabelecidos sobre o tema. Me pergunto, qual a vantagem de você ir a um debate, para ouvir o que você já sabe??? Acredito que somente com uma mente aberta a novas idéias é que podemos aprender algo.
Acredito que eu, e minha namorada que me acompanhou, estavamos entre os 10% restantes.
Gostaria de salientar, desde já, que não tenho tendência para nenhum dos dois lados no caso de experimentação animal para usos médicos, apenas me restringindo no seu uso para fins estéticos. Contra estes eu sou totalmente contra, pela própria futilidade do propósito.

Sobre o primeiro debatedor, não existe muito a falar, talvez unicamente acerca da menção que fez à legislação penal ambiental.
Dispõe o art. 32 da Lei 9.605/98:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.


Creio que uma análise deveria ser feita pelo debatedor, eis que o trecho que se refere aos "recursos alternativos" deve ser entendido não somente como recursos científicos, mas também recursos financeiros, conforme já me foi ensinado em aula de Direito Ambiental ministrada pel prof. Rafael Burlani.

Sobre o segundo debatedor, este foi, ao meu ver, o que apresentou, tecnicamente, a melhor exposição. Com argumentos científicos e fontes seguras de vários autores, descreveu que existem, sim, meios alternativos, mas que nem sempre podem ser utilizados, sejam por questões práticas ou didáticas. Mesmo eu achando, pessoalmente, que em várias circunstâncias pode haver sim a substituição de animais pelos citados meios, não podendo assim argumentar contra. Apenas, ao final deste post, deixo uma opinião sobre como resolver o dilema da experimentação animal, ao menos provisoriamente.

A terceira debatedora, a pós-doutorada Sonia T. Felipe, merece, ao meu ver, um total descrédito do conteúdo apresentado. Primeiramente, não trouxe nenhuma fonte científica dos argumentos apresentados, e baseou suas especulações nos argumentos de um único autor, sem levar em conta estudos contrários. Ademais, seus argumentos especulatórios como "os remédios não funcionam, e servem apenas para enriquecimento da industria farmaceutica" dá um ar de "conspiração" ao apresentado.

Também, cumpre ressaltar que a debatedora fugiu completamente ao tema por diversas vezes, tentando introduzir o tema do vegetarianismo, totalmente alheio ao debate em questão. Não sou adepto ao vegetarianismo. Gostaria de ser, mas não sou. Não consigo gostar de vegetais, e sou fascinado por carne. Mas, independentemente dos meus gostos pessoais, é de conhecimento geral que uma alimentação rica em vegetais é muito mais saudável, principalmente pelo baixo teor de gordura.

Todavia, a debatedora apresentou a argumentação de que inexiste deficiência de proteína em vegetarianos. Creio que esta questão será altamente controversa. A necessidade de proteína está ligada às atividades do indivíduo. Uma pessoa normal, que não pratica atividades físicas terá uma necessidade baixa de proteínas, na média de 1g por kg corporal. O que significa que um indivíduo de 70kg necessitaria de 70g de proteínas diariamente. Já um indivíduo que pratique atividades físicas regulares, necessitará de 1.8g a 2g diários de proteína por kg corporal, o que traria para a pessoa acima uma necessidade diária de 140g de proteínas. Num último caso, existem os fisiculturistas, praticantes de musculação pesada, que necessitariam de até 4g por kg corporal diariamente, equivalendo a até 280g diários no exemplo acima. Estas necessidades diárias são indicadas por diversos nutricionistas e revistas especializadas, como por exemplo a revista Men's Health, e o renomado fisiculturista Waldemar M. Guimarães Neto.
Feitas estas considerações, cabe verificar a tabela nutricional, referente à proteínas, de alguns alimentos:

Vegetais:
Arroz integral cozido: 2,6g de proteína em cada 100g de alimento
Aveia em flocos crua: 13,9g p/ 100g de alimento
Macarrãoo trigo cru: 10g p/ 100g de alimento
Pão de trigo: 8g p/ 100g de alimento
Batata inglesa cozida: 1,2g p/ 100g
Brócolis crú: 3,6g p/ 100g
Feijão crú: 4,2g p/ 100g
Tomate crú: 1,1g p/ 100g
Abacate crú: 1,2g p/ 100g
Suco de laranja: 0,7g p/ 100g

Peixes:
Cação em posta cozido: 25,6g p/ 100g
Corvina assada: 26,8g p/ 100g
Merluza assada: 26,6g p/ 100g
Sardinha assada: 32,2g p/ 100g

Bovinos:
Capa do contra-filé sem gordura grelhado: 35,1g p/ 100g
Filé mignom grelhado: 32,8g p/ 100g
Picanha grelhada: 31,9g p/ 100g

Aves:
Coxa de frango sem pele cozida: 26,9 p/ 100g
Peito de frango grelhado: 32g p/ 100g
Clara de ovo de galinha cozido: 13,4g p/ 100g

Bebidas:
Suco de laranja: 0,7g p/ 100g
Leite de vaca desnatado em pó: 34,7g p/ 100g
Queijo minas: 17,4g p/ 100g
Refrigerante: 0g p/ 100g
Cerveja: 0,6g p/ 100g
Caldo de cana: 0g p/ 100g

Fonte: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - 2ª Edição - UNICAMP

Assim, conforme se verifica pela tabela, e pelas necessidades nutricionais diárias, uma pessoa normal, que necessita de 70g diários de proteínas, para atingir uma alimentação adequada, necessitaria ingerir diariamente:

1kg e 29g de arroz com feijão, o que implica em, aproximadamente, uns 6 a 8 pratos diários deste alimento.

Ao passo que uma pessoa com alimentação adequada poderia ingerir, diariamente:
600g de arroz com feijão e peito de frango, o que implica em aproximadamente duas refeições contendo cada uma 1 peito de frango e duas conchas de feijão com duas colheres de arroz.

Lembrando que estamos estudando um indivíduo que necessite de apenas 70g p/ dia e sem prática de exercícios físicos, me pergunto: existe alguem que consiga comer 6 a 8 pratos de feijão com arroz por dia? Parem para pensar e vocês verão que é muito mais adequada a adição de (pouca) carne ao cardápio para uma alimentação adequada. Inclusive, em seu livro The Abs Diet, David Zinczenko traz como alimentos essenciais a carne de peixes e aves, o leite desnatado e as claras de ovos, sendo que o livro trata especificamente de redução de gordura corporal/abdominal e consequênte melhora da saúde.

Mas, voltando ao tema, a debatedora além de sair totalmente do tema, afirma, como já falei, que inexiste qualquer benefício nos remédios feitos pela industria farmaceutica. Me pergunto: como pode alguém com formação em filosofia e ética, sem NENHUMA formação em biologia ou química, pode afirmar uma coisa destas? O absurdo é tão grande que dispensa qualquer argumentação maior. Seria o mesmo que eu, estudante de direito, afirmar que o tratamento contra o HIV não causa nenhum efeito além do psicológico, ou que camisinhas não funcionam.

Ainda no mesmo tema, quando um dos ouvintes questionou a filósofa se, tendo um filho com cancer, este necessitasse de remédios, se ela os forneceria, a debatente redirecionou o assunto para outra questão, sendo novamente questionada pela ouvinte, que afirmou "A senhora não respondeu a questão". A dra. Sonia apenas limitou-se a responder: "Eu não tenho filhos"... Que espécie de credibilidade uma pessoa destas pode ter para argumentar em um debate sobre experimentação científica? Alguém que coloca um ideal de "vamos ajudar os animais" acima da própria saúde?

O ser humano, assim como em toda a natureza, é um animal que visa proteger a própria espécie acima das espécies alheias. Inclusive, cientificamente, não me recordo a fonte mas acredito que tenha sido na Super Interessante, a genética explica que um ser humano prefere salvar 4 primos e deixar um filho morrer, pela proliferação genética da sua espécie. Então, um ser humano que prefere a vida de um animal (em que pese todo o sofrimento, que não será pouco, a que será submetido, para obtenção de remédios viáveis para humanos), a vida do próprio filho seria o quê? Uma aberração genética?

Bem, deixo para os leitores refletirem, e creio que se algum vegano ler este post irá tecer algumas críticas mordazes, em que pese a racionalidade da presente argumentação ser totalmente coerente. Aliás, faço um desafio: tente contra-argumentar, mas cientificamente. Terei o maior prazer em ler e responder, com todo o devido respeito. Como falei no começo, não tendo a nenhum dos dois lados, apenas vejo de uma maneira racional e científica.

Por fim, a última debatedora praticamente não acresceu em nada às informações do debate, além de ter feito uma apresentação mediana, limitando-se a ler os textos dos slides. Todavia, a própria debatente havia admitido antes de começar que não estava acostumada a apresentações em público, o que alivia qualquer crítica que lhe possa ser feita.

Para não apenas criticar o assunto, gostaria de deixar então uma observação, ou melhor, uma opinião, que poderia ser utilizada nas aulas que necessitam de experimentação animal:

Não seria viável criar uma aula opcional, contendo os mesmos módulos e a mesma validade da atual, todavia utilizando-se das formas alternativas de experimentação, como uma forma de os alunos que se sentem incomodados com a prática poderem ter o mesmo nível de aprendizado sem perder suas convicções pessoais? Assim, posteriormente, poderia ser feita uma avaliação objetiva entre os dois grupos, para ver qual dos dois teria uma avaliação mais positiva do conteúdo didático apresentado.

Também, senti falta de uma discussão no aspecto jurídico da questão. Sendo assim, num próximo debate, não seria interessante trazer uma dupla de advogados ambientais para debater o tema?

Bem, tentarei enviar este post aos professores que participaram, bem como aos realizadores do evento, para que, se quiserem, se manifestem à vontade, lembrando que não se trata, aos que se sentirem ofendidos pessoal ou profissionalmente, de um ataque, e sim de uma exposição e análise pessoal sobre o debate.

Agradeço aos que conseguiram ler até o final sem dormir :D